quarta-feira, setembro 26, 2018

O voto da Esquerda é pela sobrevivência - ou, Por que votarei em Ciro Gomes?


Na tese 11 de seus Conceitos sobre História, Walter Benjamin desenvolve uma crítica ferrenha à social-democracia alemã, a partir de uma análise do desenvolvimentismo propagado por eles. Para Benjamin, “nada foi mais corruptor para a classe operária alemã do que a opinião de que era ela que nadava com a corrente”. Ao sequestrar o proletariado alemão para uma visão idealista do trabalho, onde o desenvolvimento das forças produtivas significava, automaticamente, a emancipação politica da classe, a social-democracia alemã retirou o proletariado alemão de sua tarefa histórica – a revolução.

A tese 11 de Benjamin é, na verdade, um acerto de contas histórico com a traição da social-democracia alemã. Traição ideológica por retirar o proletariado alemão do horizonte revolucionário, mas também traição política. Optando pela via reformista, disputando os espaços de poder na recém-implantada República de Weimar, a social-democracia alemã deixou que a Direita alemã apontasse seus canhões contra a Liga Espartaquista e o Partido Comunista Alemão. O resto é história: com a vanguarda revolucionária desmantelada, nada se pode fazer quando estrondou o relâmpago do nazismo. Benjamin morreu dias depois de terminar esse manuscrito, em 1940, tentando fugir dos nazistas.

O Brasil sofre de incongruências crônicas em sua política. A começar pelo fato de que os partidos sociais-democratas brasileiros (PSDB/PSD/DEM) são ideologicamente liberais ou conservadores, em total antagonismo com a tradição social-democrática europeia. Por outro lado, partidos que deveriam ser minimamente socialistas (PT/PCdoB) optam por ocupar o vazio ideológico causado pela falta de um dirigismo progressista na política brasileira. Essas aberrações no espectro politico brasileiro abrem caminho para o chamado Centrão e seu fisiologismo. Transformam a democracia representativa em um jogo de cooptação: os partidos políticos maiores deixam-se canibalizar pela ditadura da minoria, e essa minoria mina a democracia aos poucos, em nome de seus interesses espúrios.

Para piorar nosso já conturbado cenário político, a aliança PT/PCdoB decidiu ocupar também o Centro ideológico. Realinhou a via nacional-desenvolvimentista na figura do Lula e inauguraram o lulismo. Com isso, o PT postou-se como única via democrática viável. Foi uma jogada de puro gênio. Figuras como Marina e Ciro Gomes, desde o fim do segundo governo Lula, perderam totalmente sua viabilidade ideológica. Militantes petistas históricos como Eduardo Suplicy perderam fôlego. O PDT esvazou-se e foi jogado ao fisiologismo. E as centrais sindicais que apoiavam o PT entregaram-se ao projeto lulista sem reservas. A corrente que levou o proletariado alemão na década de 1910, chegou ao Brasil na figura do Lula e do PT.

Foi uma jogada de puro gênio. Maligno. Quando precisou de bases sólidas para combater o retrocesso, o PT não as tinha. Pior: ao buscar apoio da Esquerda revolucionária, esta lhes virou as costas. Veio o golpe, veio o caos. De certa forma, a traição da social-democracia alemã foi vingada no dia 30 de agosto de 2016. Quando se abandona o horizonte revolucionário, quando se opta pela política viciada da ordem burguesa, você está fadado à conveniência dos poderosos. Essa foi uma lição que a Esquerda brasileira quis dar ao PT. Não adiantou. Pior: criou-se um vazio político que até hoje não foi preenchido.

Ao não deixar espaço de manobra para os demais partidos, o PT causou um problema para si e para outros. A opção dos outros partidos foi radicalizar. Se PSDB e DEM já eram liberais e conservadores, o discurso privatista lhes tomou de assalto. O MBL vampiriza o DEM paulistano de uma forma inimaginável, enquanto o PSDB é tomado pelo laissez-faire capitalista de João Dória. Em poucos anos, o partido NOVO será o refúgio daqueles que pregam a liberalização econômica cega. O que restará de PSDB e DEM, depois do canibalismo desse novo liberalismo, ainda é cedo para saber.

De outro lado, a verdadeira Esquerda socialista/comunista teve que abandonar seus aliados históricos para se distinguir diante da classe operária. Com isso perdeu visibilidade na própria classe. A Esquerda teve que re-ideologizar o movimento de massas, a luta sindical, o movimento estudantil. Nesse processo encontrou a classe dividida: ou totalmente alienada da luta, ou cooptada pelos movimentos ligados à aliança PT/PCdoB – o que, no fundo, é a mesma coisa. Nessa luta árdua, a Esquerda ainda tateia a melhor estratégia para ganhar lastro na luta, ignorando bravamente a sua pequenez.

Com o Centro loteado no fisiologismo e os extremos cada vez mais radicalizados, a burguesia brasileira construiu a sua alternativa com Bolsonaro. Aqui vemos o Brasil de 2018 repetir a Alemanha de 1933. Os partidos tradicionais brasileiros de hoje, assim como os partidos tradicionais alemães em seu tempo, são incapazes de gerir os interesses da burguesia brasileira, pois precisam balancear diversos interesses que constituem a política brasileira. As bases partidárias, as alianças políticas – mesmo que por conveniência – e a negociação institucional entre Executivo e Legislativo atrapalham os interesses econômicos da elite brasileira. Bolsonaro, ao contrário, sempre se apresentou como o político que vive à margem da política institucional, independente, que põe o dedo na ferida de todos, e que por isso é odiado tanto à Direita quanto à Esquerda. Aliando essa imagem de outsider com um discurso conservador e moralista, conseguiu arrebanhar uma parte considerável da população. E não para de crescer, conforme indicam as pesquisas.

A eleição de Adolf Hitler em 1933 foi uma tragédia para a Alemanha, embora fosse inevitável. Uma possível eleição de Bolsonaro em 2018 também será uma tragédia, pois a farsa ainda está longe de se consolidar. O partido da burguesia brasileira é o NOVO e isso está muito claro. No entanto, o NOVO é ainda o partido dos banqueiros, dos rentistas, dos especuladores, dos profetas do capitalismo selvagem. Ele ainda engatinha para galgar os espaços políticos necessários para ganhar atenção pública e viabilizar-se como alternativa. Com Bolsonaro, a burguesia brasileira cria um atalho para seus interesses.

Uma possível eleição de Bolsonaro não mudaria o panorama econômico no curto prazo, mas certamente mudaria o panorama político contra todos os partidos de centro-esquerda e extrema-esquerda. Bolsonaro é louco o suficiente para perseguir todos nós, baseado nas mais loucas teorias de conspiração. Com Bolsonaro eleito, o dia em que organizarmos a primeira resistência, a primeira greve que for, será o pretexto para o início da caça às bruxas. A aliança PT/PCdoB, como partidos já estabelecidos, sofrerá mas se adaptará. Partidos como o PCB e o PCO não terão a mesma sorte. Fragmentados em sectarismo, incapazes de organizar uma grande resistência unificada, serão todos perseguidos e liquidados. Se a burguesia brasileira for piedosa, deixará que a cláusula de barreira se encarregue desse serviço sujo. Seja como for, isso também está claro: o caminho para o retrocesso está pavimentado e não há nada que possamos fazer.

O que nos resta é a sabotagem desse retrocesso, e o único caminho possível para isso é não desperdiçar essa eleição presidencial. É necessário reconhecer que a candidatura de Boulos foi um erro estratégico, um casamento de conveniência onde nenhum dos dois lados ganhou o que gostaria. Com seus 0 a 1% de intenções de voto, Boulos não ganhou a projeção necessária enquanto liderança de Esquerda, e a aliança PSOL/PCB não se afirmou como alternativa à Esquerda da aliança PT/PCdoB. A candidatura de Marina dispensa comentários. Marina é uma figura acarismática, asséptica, de um jeito que parece não existir no mundo físico. Mesmo quando estava certa, parece estar errada. Não convence. 2018 deve ser seu ano derradeiro.

A candidatura de Haddad é, para o conjunto dos partidos socialistas e comunistas brasileiros, uma candidatura pelo esvaziamento definitivo da Esquerda. Haddad, Manuela D’Ávila e Gleisi Hoffmann deram entrevista ao site Anticast (um podcast de centro-esquerda não-alinhado a qualquer partido), que também foi autorizado a divulgar partes da entrevista que Lula deu antes de ser preso, e que é a base de seu livro lançado pela Boitempo. Todos são claros em afirmar que o PT é incapaz de uma estratégia revolucionária que não o privilegie enquanto protagonista. A aliança PT/PCdoB tornou-se, para os demais partidos de Esquerda, como o gigante da fábula infantil que arrasa e destrói plantações, em nome de uma paz desigual para os moradores do vilarejo. Uma estratégia democrática com o PT é um suicídio político; sem ele é uma tarefa inglória. Em suma, o PT legou para a Esquerda brasileira o imobilismo da luta de classes, e por consequência sua superação.

Minha posição nessa eleição é menos ideológica e mais pragmática: Ciro Gomes. É ele quem deveria ser, desde o início, o candidato da centro-esquerda. Idealmente, com Manuela D’Ávila candidata à vice. Com essa manobra, levaria uma grande parcela do campo progressista com ele, garantiria uma frente ampla no segundo turno e o PT, fora dos holofotes, teria tempo para uma reorganização estratégica. Infelizmente o PT é incapaz dessa grandeza e leva o PCdoB a reboque da sua dança na beira do abismo. Nesse cenário de candidaturas de Esquerda pulverizadas, eleger o Ciro significa deslocar a aliança PT/PCdoB do seu pseudo-protagonismo na Esquerda brasileira. Eleger o Ciro também significa viabiliza-lo como representante do nacional-desenvolvimentismo, redirecionando essa plataforma para o seu núcleo histórico, que é o PDT. Além disso, em todos os cenários de segundo turno, Ciro é o único com chance de derrotar Bolsonaro com certa margem, enquanto Haddad e Alckmin seriam eleitos empatando tecnicamente com ele. Isso não é desprezível. Com a adesão popular que tem, Bolsonaro se sente confiante de que levará a eleição com folga, em qualquer cenário. Qualquer resultado que não reflita essa percepção, principalmente no caso de um empate técnico, criará um cenário tumultuoso na eleição: Bolsonaro não reconhecerá o resultado, pedirá recontagem, fortalecerá um mundo de notícias falsas sobre a urna eletrônica, e não descansará enquanto não lhe passarem a faixa. Será o Brasil de 2018 repetindo a Alemanha de 1933.

No entanto, esclareço: não tenho ilusões com Ciro Gomes. Seu discurso nacionalista, de defesa do patrimônio estatal, não me convence. Sei que se ele estiver numa posição de desagradar o setor progressista, a fim de garantir o superávit primário, ele o fará. Ele pode não privatizar a Petrobrás ou a Eletrobrás, visto que são estratégicas. Uma estatal paquidérmica como os Correios pode muito bem entrar em um futuro pacote de ajustes do seu governo. Esse, no entanto, é um risco que o conjunto da Esquerda deve estar consciente de correr, pelo bem de sua sobrevivência. A solução ideológica com Boulos está fadada ao fracasso. O voto útil em Haddad é uma sentença de morte lenta para a luta revolucionária, enquanto que uma vitória de Bolsonaro será uma sentença de morte imediata.

Vejo as redes sociais se ufanarem de que haverá luta caso Bolsonaro ganhe. “O único diálogo possível com o fascismo é a ponta da baioneta”, vociferam confiantes. Lamento que 1964 ensinou nada para essa nova geração de comunistas. Vão repetir o erro de nossos velhos camaradas, procurando rifles nos sindicatos para resistir aos militares e encontrando nada. O voluntarismo cego, sem uma análise crítica das condições da luta, levou vários de nossos camaradas para a morte ou a tortura. Eu, que estou afastado da luta por diversos motivos, não quero minha consciência pesada por ser conivente com a cegueira de meus companheiros, só porque não estou na barricada. Pelo menos nesse momento nós, que construímos a Esquerda brasileira, devemos tomar consciência de nossa pequenez, de nossa inabilidade de manejar as massas e construir uma verdadeira vanguarda revolucionária, e reconhecer que não há muito o que fazer a não ser sobreviver. Considerem esse os dois passos para trás da nossa geração.

Por tudo isso exposto é que eu declaro meu voto para presidente em Ciro Gomes.

segunda-feira, setembro 18, 2017

Queermuseu: quando a ilusão choca mais que a realidade.

Todo dia de manhã eu paro com Cecília em frente ao espelho. Ela olha, ri, já se reconhece. E como o espelho é muito leve, ela avança para cima dele e levanta a moldura para olhar do outro lado. Ela faz o mesmo quando mostramos uma foto sua no celular.

Cecília já entendeu que as coisas ao seu redor têm dimensões: a frente, o atrás e os lado - as famosas três dimensões. Como ela ainda não abstraiu para o fato de que a imagem projetada do espelho é uma ilusão, ela espera ver o "fundo" da imagem do espelho, ou seja, a projeção tendendo ao infinito daquilo que ela vê. Porque é isso que ela entende da concretude sensível do mundo: algumas coisas estão perto, outras estão longe, e adiante do olhar encontra-se uma infinidade de elementos a serem vistos e tocados.

A obra de arte – especificamente a pintura e a fotografia – opera da mesma forma ilusória que o espelho. Diante de nós se apresenta uma paisagem: você vê as árvores, o céu, o riacho, mas aquilo que se vê não existe para além da moldura ou do porta-retrato. Por mais realista, colorida e iluminada que for a pintura, ou o retrato, aquela paisagem ou aquele retratado são meros elementos visuais, sensíveis. Da árvore não se pode colher os frutos, e o retratado não pode cumprimentar.

É o que eu, no calor desse momento, estou chamando de paradigma de Magritte. Observem a imagem que ilustra o post, um quadro do pintor belga René Magritte (1898-1967). Obviamente que, ao olharmos o quadro, entendemos que ele pintou um cachimbo. Mas atenção para o que ele escreve abaixo do cachimbo: “isso não é um cachimbo”. Mas como? Não estamos vendo um cachimbo? Não concordamos que é um cachimbo? Não reconhecemos ali o objeto cotidiano que denominamos cachimbo? Sim, mas nesse cachimbo pode-se tocar, colocar fumo, leva-lo à boca e apreciar o fumo? O que Magritte impõe ao observador é a lembrança daquilo que Cecília já aprendeu: um objeto só se estabelece como objeto diante de sua concretude. Enquanto imagem pictórica, o cachimbo é tão somente um símbolo, um código, uma ideia; o cachimbo sobre a mesa, pronto para ser utilizado, esse sim é um objeto material, concreto, real.

Isso tudo me serve de introdução para explicitar minha posição sobre a exposição “Queermuseu”, e toda a [falsa] polêmica que ela suscitou. Os moralistas e catequistas dos “bons costumes” pecam, de um lado, pela ignorância e, por outro, pela hipocrisia. Porque armam um cavalo de batalha por nada mais do que uma imagem, um símbolo, uma ideia. Por mais gráfica que seja a cena de zoofilia, ou por mais horripilante que seja a cena de estupro, são só imagens. Há tanta violência ali quanto há perfume nas margaridas de Van Gogh. O que o paradigma de Magritte pode estabelecer como premissa é que ao se considerar como realidade aquilo que é mera ilusão, nega-se a existência da realidade.

Nenhuma imagem deve ser mais gráfica ou horripilante que a realidade. Pois tudo o que existe como representação imagética, existe como expressão fenomênica do real. Magritte pinta o cachimbo porque existe um objeto concreto chamado cachimbo. Adriana Varejão pinta uma cena de zoofilia porque existe, na realidade concreta, a perversão sexual. Não é necessária “apologia” a zoofilia, ao estupro, e ao abuso infantil: eles existem, são reais e matam diuturnamente. O que a obra de arte faz, na sua operação simbólica, é plasmar o real em um código ético universal. Se vemos uma cena de abuso infantil, em uma pintura ou em um filme, o que deve nos chocar e nos revoltar não é a cena em si, mas sim o quanto de abuso, físico e psicológico, ocorre silenciosamente deixando marcas reais em pessoas reais.

Se a arte, como imitação da realidade, é uma ilusão que mistifica a realidade, o que resta para a arte - na verdade, aos artistas? Resta rejeitar o caráter mistificador da realidade que está contido na obra de arte. No momento em que se quebra essa relação mistificadora da arte com a realidade, o que se evidencia é o arcabouço histórico que estrutura o artista e sua obra. A censura imposta à exposição Queermuseu não é só uma censura a artistas. É uma censura à própria realidade, como se fosse possível relegar à invisibilidade aquilo que a arte, dentro de sua função social, tem o dever de levantar. 

quarta-feira, julho 23, 2014

O anacronismo do verbo ouvir em quatro movimentos: Gustavo Dudamel e a Orquestra Sinfônica Simón Bolívar no TMRJ.

I.
 
Andante comodo. Cadeiras rangem de espectadores buscando a melhor posição. Serão quase duas horas de concerto, sem intervalo. O sangue precisa circular. Outros tossem violentamente, um hábito tradicional de quem senta nos andares superiores do Theatro Municipal. Alheios à cacofonia de gargantas ao redor, uma multidão de pessoas estão ávidas para registrar o deslumbre que é o salão do Theatro Municipal. E não há só a necessidade de registrar o Theatro, mas também registrar-se no Theatro. Selfies e check-ins são parte do novo habito de ir à concertos.
 
Mas haverá um concerto no Theatro Municipal. No programa: a Nona sinfonia de Gustav Mahler, sua última obra sinfônica completa. No palco, dois orgulhos nacionais do nosso país vizinho, a Venezuela: um é a Orquestra Sinfônica Simón Bolívar, um caso raro de sucesso entre orquestras latino-americanas, que une qualidade técnica de nível internacional, experiência e formação jovens musicistas. São os louros de um trabalho excepcional de musicalização infanto-juvenil difundido em toda a Venezuela, conhecido como El Sistema.
 
O outro é o fruto mais famoso do El Sistema, e diretor artístico da OSSB, o maestro Gustavo Dudamel. Jovem, porém com larga experiência, Dudamel também é diretor artístico da Orquestra Filarmônica de Los Angeles e também já regeu as grandes orquestras de Viena, Berlim e Nova Iorque. Mas seu vínculo com a Simón Bolívar é mais que duradouro. Conjunto e regente colocaram a vilipendiada Venezuela no mapa cultural musical mundial. Curioso pensar que a orquestra do país que não tem frango, nem papel higiênico, é largamente superior que seus pares no Brasil, e capitaliza mundialmente com a venda de CDs e DVDs.
 
Começa a sinfonia. Surge o primeiro tema. Uma elegia melodiosa e plácida, porém irregular. Começa com suaves toques de trompete e o dedilhar de uma harpa. Soa como um realejo desafinado, ou batidas irregulares de um coração. Seria o coração do próprio Mahler à falhar? O compositor morreria semanas após concluir a composição de sua Nona, uma infeliz coincidência que o iguala à Beethoven, Schubert e Bruckner tanto na genialidade quanto no infortúnio. As cordas desenvolvem o tema, acompanhados da clarineta e do corne inglês. Com uma modulação, os violinos inserem um pequeno momento de tensão. Violas acompanham. Uma moça se debruça sobre a poltrona para tirar uma foto da orquestra em ação. As trompas tornam-se mais incisivos, violas e violinos se agitam, crescem em volume, como que anunciando uma tempestade. Click. Junto com as cordas crescem trompetes e trombones, flautas e clarinetas, o tímpano ribomba vigorosamente, e como o sol que vara o amanhecer de luz, a orquestra em uníssono inunda o teatro de som. Click, canta também a máquina da moça, disparando um clarão de flash no salão escurecido. Um momento congelado e registrado para a rede social. No palco, o movimento segue.
 
A composição da Nona precedeu um período conturbado da vida de Mahler. Em 1907, apesar de vários triunfos como diretor artístico da Ópera de Viena, Mahler foi vitima de uma ferrenha campanha difamatória encampada pela alta sociedade vienense. A forma intempestiva com que comandava a Ópera, seu casamento com a socialite Alma Schindler, sua ascendência judaica, tudo era motivo de discórdia e fofoca, amplamente divulgada na imprensa. Mahler decide, então, pedir demissão da Ópera de Viena e retirar-se para sua casa de campo. Lá, a filha Maria, de quatro anos, morreu de uma infecção de escarlatina. A morte de Maria aprofundou uma crise conjugal que se arrastava à alguns meses, e os rumores de que Alma e o arquiteto Walter Gropius (futuro fundador da Bauhaus) mantinham um relacionamento provaram-se verdadeiros. Logo em seguida, veio o diagnóstico da doença cardíaca que o vitimaria em 1911. À beira de ataque de nervos, Mahler passou por sessões de terapia com Sigmund Freud. Só então sentiu-se saudável e recomposto para retomar o trabalho como compositor. Uma luz de lanterna de celular surge na poltrona da frente, incomodando os olhos acostumados à penumbra. Será que alguém procura essas informações no programa? Página dois, os dois primeiros parágrafos. Leia rápido, por favor.
 
II.
 
Im Tempo eines gemächlichen Ländlers. Etwas täppisch und sehr derb. No segundo movimento da Nona encontramos Mahler em contato com a serenidade. Longe da vida agitada da cidade, em comunhão com os Alpes austríacos de sua adoração, que lhe forneceram uma centena de linhas inspiradas, Mahler toma a partitura para dançar. O uso do Ländler, uma dança folclórica austríaca, não é novidade na escrita mahleriana. Ele surge nas sinfonias de Mahler como um alívio cômico, uma descarga de alegria em um espírito cansado e taciturno. Querida, isso não está escrito no programa. Desligue a lanterna, que já está incomodando.
 
Começa com os violinos apresentando o tema. Cinco notas insinuantes. É o convite à dança. A clarineta responde, seguido do fagote e das trompas. O convite foi aceito. Chega a vez das violas se incorporarem à melodia, apresentando o segundo tema. Forma-se a roda. Cordas e sopros se alternam na apresentação dos dois temas e a ciranda de sons é constante. De novo um click mais à frente, e o flash a iluminar o salão. Mais um momento congelado para o Instagram, e a música segue. A ciranda dá lugar a uma valsa. As cordas apresentam o tema. Não é uma valsa de salão, onde imaginaríamos a princesa Sissi debruando vestidos de seda à impressionar a corte. É pesada e rústica, como é a vida campesina, mas não vazia de alegria e jovialidade, sentimentos nos quais Mahler quer afogar-se por inteiro. Cordas, sopros e percussão se unem para uma vigorosa execução. Ao meu lado, dedos frenéticos trocam mensagens pelo Whatsapp, como que acompanhando os compassos da música. Mais à frente, novamente o click e o flash. Se há uma convulsão de sons e melodias no palco, há na plateia os seus concorrentes.
 
A dança vai diminuindo sua intensidade. Aos poucos, os instrumentos vão deixando a roda, até restar os sopros expondo o tema inicial do movimento, aquelas cinco notas insinuantes e convidativas. Mahler não quer deixar o momento acabar. O fim da dança é o fim da alegria, da jovialidade, tudo o que falta ao compositor no seu momento de miséria. Mas se nada é feito para durar, que seja proveitoso até o último minuto. Fagote e corne inglês alternam-se na exposição do tema, o som diminuindo gradativamente até que o movimento se encerra com a flauta. Silêncio no palco. Na platéia, cadeiras rangem e gargantas pigarreiam. Parece que são todos acometidos de uma tuberculose crônica. Mas as gargantas aquietam, e os assentos parecem mais confortáveis. Tudo pronto para o terceiro movimento.

III.

Rondo-Burleske: Allegro assai. Sehr trotzig. Realmente, nada é feito para durar. A alegria jovial daquela dança campesina do segundo movimento, transforma-se numa caricatura burlesca de si mesma no terceiro movimento. O som de uma orquestra em fúria se levanta no Theatro. Trompetes anunciam o tema, seguido por violinos e violas. As cordas atacam a melodia com intensidade, numa sucessão de harmonias dissonantes. Surge uma nova dança, feérica, irônica. Click. Cada arpejo vale um flash.
 
Mahler passa em revista suas realizações, conquistas e triunfos. Talvez tenha lembrado de sua conversão pragmática ao catolicismo, para conseguir o cargo de diretor da Ópera de Viena. Seu comentário sobre o assunto, confidenciado a um amigo da época, mostra bem o espírito de Mahler: “apenas troquei de capa”. Até poucos anos após sua morte, o mundo musical o reconhecia como um regente superior à média, tendo suas interpretações de Mozart e Beethoven grande destaque. O valor que dava aos compositores contemporâneos também era digno de nota. A ópera italiana renovava-se no mundo germânico com produções capitaneadas por Mahler e Viena. Como compositor, no entanto, o reconhecimento não encontrou a mesma acolhida. Suas sinfonias são longas, contendo uma infinidade tal de melodias que deixa o ouvinte incauto zonzo de tanto som.
 
À tudo isso, Mahler responde como uma criança travessa, dando a língua e rindo por último. Mesmo sujeito à critica e ao escárnio dos homens de seu tempo, Mahler compôs a música que estava presa dentro de si, sem concessões. A grandiosidade de suas orquestrações, a quebra constante de paradigma da forma sinfônica, seu fascínio pelos temas mais profundos do inconsciente – o amor, a morte, e a redenção espiritual. Mahler trouxe para si a responsabilidade de compôr uma música que contemplasse a vastidão de um universo que não se vê com olhos, e divertiu-se com a tarefa. Click.
 
IV.
 
Adagio. Sehr langsam und noch zurückhaltend. Mahler tinha mais fôlego de vida no espírito, do que cabia em seu peito. O coração não duraria mais tanto tempo e o esforço de emendar na composição de uma décima sinfonia provar-se-ia infrutífero. Sua Nona chega ao último movimento e ainda há tanta música para ser escrita, que parece não caber numa folha de pauta. A vida não é justa, mas é a vida que temos para viver da melhor maneira possível. É o que diz o movimento lento que encerra a obra.
 
O movimento começa com uma melodia arrastada pelos violinos. Soam como o suspiro que sucede um longo choro. Resignação. Segue-se um longo tema, com todas as cordas em harmonia. Cada nota soa como uma suflada de ar pelo corpo. Ainda há sangue nas veias, ainda há um coração batendo, ainda há vida. Mas está acabando, infelizmente. Mahler vai se despedindo do seu ofício, que era também sua vida. Click, click. Mais um selfie para o Facebook. O adeus é dolorido. Juntam-se às cordas os fagotes, as flautas, os trombones, os trompetes. Toda a orquestra, cada instrumento ao seu modo, com seu som único, vai também se despedindo. A relação entre o compositor e a sua música é um caso de amor inequívoco.
 
Pianissíssimo. Mahler vai se agarrando ao último fogo de vida de sua obra, como se disso dependesse anos à mais para compor as melodias que ainda povoam seu gênio. Os últimos acordes de sua Nona são as últimas linhas de um poderoso testamento musical. Mas o que virá depois, talvez pergunte Mahler não para si, mas para suas obras, sua música. Será o silêncio a morte da música, ou seu momento fundante? Na dúvida, melhor que a música não pare. Ewig, ewig, ewig... Click.
 
Ao passo em que a música se encerra, como um último suspiro de existência, uma angústia toma conta da platéia, ávida pelo aplauso automático. Um grito de bravo tira a platéia de sua miséria. Todos aplaudem com entusiasmo e pedem bis. Querem mais um momento congelado para o Facebook, um último registro para o Twitter, uma última foto com filtro para o Instagram. Enquanto uns oferecem ruídos mundanos em troca de melodias titânicas, outros aprisionam o momento numa câmera de iPhone, para a lembrança não da memória, mas da rede social. Pobre Steve Jobs, que inventou um dispositivo capaz de aprisionar imagens, mas esqueceu de inventar um dispositivo que aprisionasse também o som. É uma triste e irônica lembrança essa, a de uma orquestra eternizada pelo silêncio.

quarta-feira, junho 19, 2013

Entre protestos e gases, a construção da Primavera Brasileira.

Discordo dos que não consideram nossa onda de protestos algo que se possa chamar de Primavera Brasileira. A primavera é a estação do despertar, é a estação onde se lançam as sementes para a colheita futura. A Primavera de 1848 durou apenas um ano, mas moldou o espírito político social da Europa até o século XX. A Primavera Árabe conseguiu muito mais do que podia, em menos de cinco anos. E agora assombra governos que até pouco tempo restavam seguros de suas posições hegemônicas (vide a Turquia). O Brasil simplesmente acomapanha a vaga mundial e deixa de ser terra infértil.

Ao mesmo tempo, compartilho a preocupação de alguns quanto ao caráter político de nossa Primavera Brasileira – deixando um grifo importante e enfático no “caráter político”. Diante da ainda efêmera vitória alcançada ontem, em várias capitais do país, desenham-se esquemas obscuros, de latente caráter sabotador. E contra eles, os manifestantes não possuem preparo para combater.

Destaca-se a manipulação midiática em torno das manifestações. Em editorial feérico há duas semanas atrás, o jornal A Folha de São Paulo defendia punição severa aos manifestantes da Avenida Paulista. A Rede Globo, ao noticiar os eventos, só destacava os episódios de depredação. Os comentaristas de segurança de todos os telejornais, eram só elogios à ação truculenta das polícias militares. Em todas as emissoras, era o mesmo mote: destaque para as cenas de depredação e descaracterização da frente de luta. Mas a polícia é bem mandada e cumpre ordens à risca. A violência policial atinge os meios de comunicação e uma repórter da Folha é ferida gravemente no olho direito. E então, só então, surgem na grande mídia os relatos da violência gratuita. Em vídeo postado na internet no domingo, policiais militares do Rio jogam gás lacrimogêncio em manifestantes no Campo de São Cristóvão. Mulheres e crianças que passeavam no parque também são atingidos. A opinião pública pende para o outro lado. A grande mídia prepara a guinada.

E o que se vê hoje? A Folha de São Paulo está em cima de toda ação policial, que agora é caracterizada como violenta. Rodrigo Pimentel destaca o despreparo da polícia em ações de contenção de multidões. Arnaldo Jabor pede desculpas públicas por engrossar o coro pela repressão. E o que nasceu da rua, da espontaneidade popular, passa a ganhar ares novelescos. Os manifestantes do bem, que vestem branco e distribuem flores. Os baderneiros do mal, que incendeiam carros e destróem o patrimônio público. Os que defendem a bela democracia, de espírito jovem e ordeiro. Os desordeiros que desestabilizam o movimento e não representam a maioria. Impoem agora quem está apto para protestar, como protestar, e pelo quê protestar. Todos fazem parte da mesma luta. Todos estão na rua pela mesma idéia, todos gritam pelos mesmos direitos. Mas para a grande mídia, só os que vestem luvas de seda tem direitos. Azar o deles. Quem não rasgar as luvas de seda, não está disposto a se sujar. Não está preparado para a rebelião social.

É preocupante a idéia de “despolitização” dos protestos, que inunda a mente dos manifestantes. Faixas com os dizeres “nenhum partido me representa” são erguidas com entusiasmo. A fala do governador Sérgio Cabral Filho, e a manifestação de alguns pela internet, faziam coro a esse propósito e criticavam o “caráter político” de algumas manifestações, que destoavam do “caráter popular” que os protestos deveriam ter. Talvez por isso, alguns militantes de esquerda, que empunhavam as bandeiras de seus partidos e de suas organizações, foram hostilizados pela maioria dos presentes aos atos. Espalhava-se pela rede, entre os militantes de esquerda, que nenhuma mafestação a favor do ato deveria ter “caráter político”. Ontem, em São Paulo, um militante do PCR (Partido Comunista Revolucionário) foi expulso do ato aos aplausos da multidão. Mais à noite, um grupo do PSTU foi vaiado e hostilizado.

Porém, examine-se nas imagens da TV quais bandeiras estavam presentes nos atos em todo o país. Havia entre elas alguma representante da conhecida oposição ao governo federal? E se o governo afirma que as manifestações são legítimas da ordem democrática, onde estava para conter o abuso policial nos últimos enfrentamentos? Desde ontem, deputados, senadores, e políticos de diversas correntes louvavam o espírito aguerrido dos manifestantes. O programa partidário do PMN, por quase dez minutos, ressaltava que só a organização popular é capaz de transformar o país. Onde estavam todos eles, quanto as manifestações não ganhavam o vulto midiático que agora possuem?

A isso não se denomina “despolitização”, denomina-se “alienação político-partidária”. A idéia corrente de que os partidos políticos abusam da boa vontade do povo, fazendo prevalecer pretensas ambições de poder. Os que se manifestam contra os partidos que apoiam os protestos cantam, na verdade, uma grande ode à nazificação do movimento. Enquanto muitos foram para a rua protestar pela primeira vez, vários já estiveram em protestos antes. Enquanto muitos se deslumbravam com os cem mil que inundaram a Rio Branco, vários sabiam que aquela marcha ainda significava pouco. Construir uma unidade política, unificar uma vasta agenda de demandas, no meio de um grupo tão heterogêneo, é um desafio maior e mais árduo do que mobilizar pessoas pelo Facebook. A rua não é lugar para sectarismo. Ela já esteve ocupada por essas bandeiras antes, e continuará ocupada por elas quando a maioria cansar de brincar de manifestante. E é isso que diferencia quem possui ambições de poder, e quem é comprometido com uma luta verdadeiramente democrática.

Para quem acordou agora para o clamor das ruas, bem-vindo à luta! Mas saiba que já tinha gente nela antes. Conheça-os antes de hostiliza-los. Eles podem te ajudar a construir algo mais sólido para o seu país do que a sua simples indignação.

quinta-feira, abril 11, 2013

A ferrugem da Dama de Ferro

Na minha última postagem, sobre o papa Francisco, cheguei a abordar como o poder político de um cargo pode reescrever a biografia de uma pessoa. Para tanto, faz-se necessário que tal pessoa disponha de um aparato midiático disposto a reescrever sua biografia, refutando ou eliminando qualquer ruído sobre fatos que diminuam o caráter do biografado. O papa Francisco tem logrado sucesso nessa empreitada. A revista Veja, em sua edição de 27 de março desse ano, anunciou já na capa que a influência do novo pontífice na política da América Latina "será uma benção". Estaria a revista se referindo ao "papa dos pobres", ou ao delator de confrades?

Descobrimos agora que a morte também é capaz de reescrever uma biografia manchada. O aparato midiático mundial se presta, durante toda a semana, a homenagear a Dama de Ferro, a ex-Primeira Ministra britânica Margareth Thatcher. Com seu passamento, a linha dura e a intransigência características dos seus anos de governo foram suavizadas, relativizadas e louvadas como exemplo de liderança firme e ousada. Sua forte oposição a socialismo colocam-na ao lado de Ronald Reagan e João Paulo II, como colaboradora no desmantelamento do bloco soviético, mas esquecem-se de seu apoio incondicional ao ditador chileno Augusto Pinochet, inclusive durante o exílio deste em Londres. Também esquecem-se (ou querem que se esqueça) seu apoio velado ao sistema de Apartheid na África do Sul, acusando Nelson Madela de "terrorista". Aliás, é bem sabido o tratamento preferencial que a Sra. Thatcher dispensou aos "terroristas" do Exército Republicano Irlandês (IRA).  

O auge do governo Thatcher foi entre 1979 e 1981, quando a Grã-Bretanha entrou numa forte recessão econômica. O que a mídia mundial tenta mostrar é que a recessão britânica foi causada pelo dívida pública crescente, que o então governo trabalhista de James Callaghan gastava demais para manter o estado de bem-estar social, e que a inflação estava descontrolada devido ao custo de vida elevado. É nesse cenário que surge Margareth Thatcher. O Partido Conservador, derrotado nas últimas três eleições até aquele momento, transmitia a mensagem de que a chave do sucesso para a economia britânica era a austeridade, o dispêndio consciente do orçamento público e o corte inevitável dos excessos. E onde os tradicionais políticos ingleses falharam, uma mulher teria êxito. Pensavam que se a dona-de-casa não fizesse bem, também não faria um mal pior do que o que se desenhava. Triste constatar que uma mulher pode ser eleita líder de um país não por suas credenciais ideológicas, mas pelo seu sucesso nos afazeres domésticos. Cúmulo do machismo velado, que ainda ronda alguns discursos por aqui.
 
Mas é preciso analisar tudo pelo espectro mais amplo. A recessão econômica do período não era privilégio da Grã-Bretanha, pois atingia vários países desenvolvidos e em desenvolvimento. Ela já vinha desde o início da década de 1970, com a crise de abastecimento do petróleo. Foi uma crise sistêmica do grande capital especulativo, causada pela flutuação de câmbio das moedas fortes do período, como o dólar e a libra esterlina. Com a flutuação do câmbio, já que não há lastro que as sustente, surge a necessidade de aumentar as reservas monetárias - na prática, significa imprimir mais papel-moeda. Com mais dinheiro circulando no mercado, menos valor agregado o dinheiro acumula. As moedas desvalorizam, os preços disparam, as mercadorias encalham e começa a recessão. Não foram os gastos públicos, nem os benefícios sociais que levaram à instabilidade econômica. Foi a desregulamentarização do capital especulativo que causou a recessão.
 
No entanto, isso nunca fica aparente. A mídia e os partidos políticos ligados ao capital financeiro insistem que o gasto com os benefícios sociais são os responsáveis pela crise. A onda de recessão que levou Margareth Thatcher ao número 10 da Downing Street, foi a mesma que levou Ronald Reagan à Casa Branca. E daqui começou uma nova fase da exploração capitalista. O mantra entoado era que os benefícios socias pesavam os cofres públicos, e a máquina burocrática do governo deveria ser enxugada. Estatais que não dessem lucro deveriam ser entregues ao setor privado, e assim seriam melhor administradas. Financiamentos estudantis deveriam ser cortados, incentivos à moradia reduzidos. O governo reduzia custos não para reverter o caos econômico, mas para ajudar o capital mundial a balancear sua receita. Ao cortar financiamentos à educação e à moradia, ao privatizar indústrias chaves para o crescimento econômico, os governos Reagan e Thatcher garantiram, às custas do contribuinte, que o capital teria lastro para mover sua espiral de especulação e apropriação, com recusros que eram públicos. Esse mote econômico formou a base do que se convencionou, anos mais tarde, de Consenso de Washington. Na verdade não havia consenso. Era uma receita amarga. Para se enquadrar nos moldes do capitalismo financeiro mundial, os países deveriam desonerar suas receitas. Provamos desse remédio amargo nos governos Collor e FHC. Se hoje a Petrobras divide os lucros do petróleo com a Halliburton, agradeçam em parte à Dama de Ferro e sua política de austeridade.
 
Analisando todo esse retrospecto, e levando em consideração os atuais modelos democráticos, uma questão vital se desenvolve e pode ser resumida no seguinte: é para isso que elegemos governantes? De acordo com o ideário democrático em que se pauta a sociedade ocidental, governos são eleitos para representar a vontade do povo, satisfazer as demandas da sociedade e garantir a todos o direito básico de acesso à educação, saúde, cultura e justiça. No entanto, os estudantes que protestaram contra o corte no orçamento das universidades públicas foram duramente reprimidos. Os trabalhadores que lutaram pela manutenção do seu direito básico ao trabalho foram espancados como animais indóceis. Os presos políticos do IRA, por se recusarem a serem tratados como míseros ladrões de galinhas, foram deixados para morrer de fome. Fomos criados com a noção de que a vontade do povo é soberana, e que nossos governantes são obrigados a ceder a essa vontade. Essa é uma visão totalmente distorcida da realidade política da nossa sociedade, como também é uma distorção ideológica do próprio conceito do que é democracia. A realidade política da nossa sociedade é que, apesar de elegermos nossos governantes, eles não são regidos pela vontade e soberania do povo, e sim pelos seus próprios interesses. Interesses de classe.  O sistema capitalista é regido por uma minoria montada em grandes conglomerados financeiros, e é amparada abertamente pelos estados, sem hesitação. Portanto não se engane.Você elege governantes que se preocupam com a manutenção dos privilégios do grande capital e da minoria que se beneficia dele. E pela manutenção desses privilégios o capital pode fazer concessões, mas nunca mudar seu caráter de exploração

Não me surpreende que em várias cidades inglesas (especialmente no norte do país, que concentra a maior parte da indústria pesada e extremamente afetado pelas política econômica do governo Thatcher), pessoas se reuniram para realmente celebrar a morte de Dama de Ferro. Os torcedores do Liverpool, time da primeira divisão inglesa de futebol, costumam cantar uma pitoresca canção em homenagem a Dama de Ferro: "Nós vamos fazer uma festa... Quando Maggie Thatcher morrer!"



Dama de Ferro. Os soviéticos deram esse apelido à Sra. Thatcher, de forma bastante ofensiva. A dama de ferro era um instrumento de tortura medieval. Um caixão de ferro fundido onde cabia um adulto em pé, e por dentro era cobertos com longos pregos. Ao fechar o caixão, os pregos perfuravam o infeliz, fazendo-o sangrar até a morte. A Sra. Thatcher não só aceitou o epiteto de bom grado, como fez exatamente isso: arrochou a classe trabalhadora de tal modo que a fez sangrar.

Existe uma verdade inconveniente nisso tudo. Certas coisas não podem ser perdoadas, porque certas coisas não podem ser esquecidas. Desejar a morte de uma pessoa não é uma atitude das mais nobres. Mas a morte não enobreçe o caráter, nem torna ninguém virtuoso. O que vem depois da vida é regido pela fé, pelo mistério, ou pelo nada. Mas isso não importa. As pessoas são o que elas deixam como legado em vida. E o legado da Sra. Thatcher é de erva daninha!

Por isso, nessa semana, eu me junto aos Reds de Liverpool e digo sem rubor: party everyday!

terça-feira, março 19, 2013

Construindo um papa humilde

Fica evidente o esforço da mídia nacional e internacional em louvar as mínimas atitudes do novo papa, ressaltando seu espírito humilde e simples. Jorge Mario Bergoglio, ex-arcebispo de Buenos Aires, e oficialmente entronado hoje como papa Francisco, assume a igreja romana cercada pelos escândalos sexuais entre seus sacerdotes, pelas denúncias de corrupção envolvendo a Cúria romana, e pelo descrédito que envolve os fiéis europeus e na América do Norte. Um papa forte, e ao mesmo tempo compassivo, segundo analistas, pode ajudar a combater a grande crise que paira sobre a Igreja Católica. O que parece é que os líderes da Igreja Católica embarcaram numa jornada em busca de algo há muito perdido, em toda a cristandade: os ensinamentos do próprio Cristo.
 
Pairam sobre o papa Francisco a desconfiança sobre suas reais ligações com a ditadura argentina. O porta-voz do Vaticano prontamente descaracterizou as denúncias, acusando o jornalista argentino Horácio Verbitsky de “esquerdismo”. A imprensa de modo geral pouco se ocupou do assunto. Talvez porque os fatos apresentados por Verbitsky são incontestáveis. Além de vários documentos, o jornalista reforça o relato do jesuíta Francisco Jalics, religioso perseguido durante a ditadura militar argentina e hoje radicado na Alemanha. Em seu livro Exercício de Meditação, de 1994, Jalics narra o seguinte:
 
“Muita gente que sustentava convicções políticas de extrema-direita via com maus olhos nossa presença nas vilas pobres. Interpretavam nossa presença ali como um apoio à guerrilha e se propuseram a nos denunciar como terroristas. Nós sabíamos de que lado soprava o vento e quem era o responsável pelas calúnias. De modo que fui falar com a pessoa em questão e expliquei que estava jogando com as nossas vidas. O homem me prometeu que diria aos militares que não éramos terroristas. Por declarações posteriores de um oficial e trinta documentos aos quais tivemos acesso mais tarde pudemos comprovar, sem lugar para dúvidas, que esse homem não só não havia cumprido sua promessa, mas, ao contrário, havia apresentado uma falsa denúncia aos militares”.
 
Outro religioso jesuíta, Orlando Yorio, em carta escrita ao assistente geral da Companhia de Jesus em 1975, foi mais direto. Afirmou que Bergoglio era o autor das denúncias.
 
As contundentes provas contra o papa Francisco devem ser analisadas dentro do contexto amplo da submissão do alto clero sul-americano aos governos militares de seus respectivos países. Em ata de reunião realizada em 15 de setembro de 1976, entre a junta militar e a Conferência Episcopal Argentina, fica explícito o apoio incondicional do clero argentino ao chamado Processo de Reorganização Nacional daquele país. Nesse documento, amplamente divulgado por Verbitsky, fica esclarecido que a igreja na Argentina não pretende “encabeçar uma posição de crítica à ação do governo, atitude que não nos corresponde”. Dizem ainda os bispos que o fracasso do governo militar levaria o país “com muita possibilidade ao marxismo, e por isso acompanhamos o atual processo de reorganização do país, empreendido e encabeçado pelas Forças Armadas, com compreensão, e a seu tempo com adesão e aceitação”.
 
 
Vale lembrar que não diferente do clero argentino, o clero brasileiro também empreendeu perseguição aos elementos progressistas dentro da igreja. O Grande Don Hélder Câmara teve sua vida eclesiástica resumida ao ostracismo, foi impedido de viajar ao exterior para conferências, foi proibido de lecionar em seminários e viu as comunidades de base de sua diocese enfraquecerem. Tão execrável quanto relegar um clérigo ao obscurantismo, é o silêncio tácito à tortura de padres, como Leonardo Boff, Frei Betto e Frei Tito. Boff e Betto sobreviveram ao terrorismo de estado e mantém seu ativismo. Frei Tito, chagado pela intolerância do seu meio, suicidou-se no exílio.
 
 
E mesmo com o peso dessas acusações, de uma postura de total desprezo pela vida daqueles clérigos perseguidos, toda a história pregressa do papa Francisco, aos olhos do mundo, vão virando não mais que uma polêmica nota de rodapé na biografia do sumo-pontífice. Parece que a grandeza do cargo o escusa de qualquer falta no passado. Afinal, é primeiro papa sul-americano, um continente devastado pela pobreza. É o papa que não adere aos protocolos pontificiais; é o papa que usa um crucifixo de aço; é o papa cujo anel é somente folheado a ouro; é o papa que anda de ônibus; é o papa que gosta de tango e torce para um time de futebol. A construção da imagem do papa Francisco é tão canhestra, se utiliza de argumentos tão forçados, que fica impossível não perceber o quanto a mídia tradicional se compromete na defesa do indefensável. Utilizam-se inclusive da imagem de Francisco Jalics, dizendo que o clérigo atualmente está em paz com o novo papa. O que não passa pela análise dos jornalistas é que se Jalics perdoou mesmo o papa Francisco, tal atitude só enaltece o caráter de Jalics em detrimento de qualquer mérito do papa Francisco.
 
 
Fica portanto muito evidente o que se pode esperar desse novo pontificado. A Igreja Católica e o seu pontificado buscam fortalecer-se como poder político, promovendo os interesses da classe que os sustenta. O diálogo interreligioso, efêmero durante todo o pontificado de Bento XVI, se não continuar estagnado como está, corre o iminente risco de corroer. Mesmo provada a importância da mulher em nossa sociedade, e contrariando a tendência de alguns grupos cristãos, o sacerdócio feminino será sempre um absurdo. O celibato – uma castração consentida da sexualidade, e que pode ser a resposta para os escândalos de pedofilia que assolam o clero católico – não terá a abordagem merecida. As pesquisas com células-tronco,  uma esperança concreta para quem sofre de doenças crônicas do cérebro, do coração, ou para os que estão paralisados, será sempre uma afronta à vida. A seção de direitos civis a homossexuais será sempre vista como uma outorga de privilégios especiais; e luta pela erradicação da pobreza extrema será sempre vista como a busca impossível do paraíso na terra. Mesmo promovendo um discurso de bondade e compaixão, a Igreja Católica e o papado caminham a passos largos na contramão do seu tempo, aprofundando a irrelevância com que certos setores da sociedade os enxergam.
 

Um discurso de ódio impregna toda a cristandade, desde católicos a evangélicos. O silêncio do clero cristão a esse ódio significa apoio incondicional ao ódio contra a luta das minorias e a plena democracia. Esquecem-se da prédica de Jesus, que disse que os humildes herdarão o Reino de Deus, que os que promovem a paz serão chamados Filhos de Deus, e que os que tem fome e sede de justiça serão satisfeitos. Envergonham, portanto, o seu Deus e o seu Cristo.

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Nota do autor: tive que excluir o penúltimo parágrafo da verão original do texto, pois ele citava um site de humor da internet. Aos que leram a primeira versão, minhas desculpas. Alguns pensam que emular a linguagem de certos grupos, com intuito satírico, é uma forma de criticar as reações extremadas. Eu não vejo utilidade nesse tipo de humor, porque a maioria dos que se prestam a ele não passam o mínimo de ironia no que publicam. Simplesmente repetem a retórica, sem nenhum filtro humorístico, porque acham que a retórica em si é uma piada pronta. Se soubessem quantos pela rede realmente acreditam que a Igreja Católica é a grande combatente do comunismo, ou que os militares ditadores da América Latina prestaram um grande serviço aos seus países, talvez repensassem sua estratégia de humor.

quarta-feira, março 13, 2013

Divagações sobre o Conclave 2013

Poucos se dão conta, mas o Conclave, a eleição de um papa, é um momento histórico único. Os que não se importam, enxergam na cerimônia um espetáculo medieval sem sentido. Pena não perceberem que um Conclave pode mudar toda a perspectiva de uma parte da cristandade. Especialmente nesse Conclave, convocado a partir da renúncia do sumo pontífice e não de sua morte, como costumeiramente acontece. Os recentes escândalos de pedofilia entre padres, de corrupção nas instituições vaticanas, e a inabilidade dos líderes católicos de lidar com essas e outras questões relevantes ao mundo contemporâneo, foram cruciais para que a Igreja Católica perdesse a credibilidade e a relevância que possuia em seu rebanho. Nesse ponto, a crise pela qual passa o catolicismo é a crise pela qual passa toda a tradição cristã ocidental.

É nesse momento histórico que os cardeais da Igreja Católica se reúnem para eleger um novo pontífice. Na busca por quem os guie em águas violentas e desconhecidas, talvez se perguntem se há alguém capaz de vencer o ceticismo geral quanto à punição de padres pedófilos. Ou se será mesmo preciso desarmar a tradição e o dogma, se o objetivo for voltar a ter relevância na vida das pessoas. Infelizmente, não cabe aos fiéis essa tão esperada mudança de paradigma da fé. Isso está a cargo da vontade dos cardeais eleitores e de quem eles elegerem como futuro papa. A nós cabe, de alguma forma, tentar entender os meandros da política vaticana. Esse é o exercício que faremos aqui.

O último papa renunciou porque, segundo o próprio, “as minhas forças, devido à idade avançada, já não são idôneas para exercer adequadamente o ministério petrino”. A atual situação da Igreja Católica, cercada de escândalos e desconfiança, pede que o próximo papado seja mais longo que o anterior, que durou apenas 8 anos. O próprio papa Bento XVI recomendou que o próximo pontífice seja forte e jovem, para então suportar as pressões do cargo. Portanto, a eleição de qualquer cardeal acima de 75 anos inviabiliza um governo pontifício de longo prazo.
 
Já nesse ponto podemos descartar dois candidatos italianos que são tidos como certeiros: o Secretário de Estado e Camerlengo Tarcisio Bertone e o prefeito emérito para a Congregação dos Bispos Giovanni Batistta Re. Eu ainda me arriscaria a incluir nessa lista o nome de Angelo Scola, Arcebispo de Milão, e o que todos consideram o mais provável eleito. Com 71 anos, ele já pode ser considerado velho e no limite para assumir o pontificado. Se ele não for eleito agora, não será mais. E três brasileiros completam essa lista: Don Cláudio Hummes, Don Geraldo Magella Agnelo e Don Raymundo Damasceno.

Passado o escrutínio da idade, passamos ao peso do cargo. Bento XVI foi eleito principalmente pelo peso político do cargo que exercia na Cúria. O então cardeal Ratzinger, um religioso eloquente, culto, e por assim dizer “acadêmico”, era prefeito para a Congregação da Doutrina da Fé – o antigo Santo Ofício. Credita-se a ele muito da intolerância aos bispos e padres adeptos da Teologia da Libertação. Mas para além das posições firmes, o cardeal Ratzinger é muito responsável por formatar a atual doutrina da Igreja Católica. Uma igreja que busca relevância no mundo atual, mas que não quer perder o arcabouço de suas tradições.

Tendo isso em mente, é lógico concluir que um cardeal inserido na Cúria e nos meandros políticos do Vaticano fortalece o caráter moderador dos dois últimos pontificados. Por esse ângulo, nomes mais interessantes que os principais papáveis se destacam. Três são italianos: Mauro Piacenza, prefeito para a congregação do clero; Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho Pontifício para a Cultura; Giuseppe Versaldi, prefeito da Secretaria de Assuntos Econômicos da Santa Sé. Para mim, esses são os candidatos italianos mais fortes. Porém, uma igreja que se intitula universal, não pode esquecer a maior representatividade do seu rebanho, que está nas Américas. Nesse sentido, ganham força os nomes do canadense Marc Ouellet, prefeito para a congregação dos bispos, e do brasileiro Don João Braz de Aviz, prefeito para a congregação das instituições monásticas. Também concorre com força o ganês Peter Turkson, presidente do Conselho Pontifício para Justiça e Paz. Se eu tivesse que focar minha atenção em um grupo de cardeais, seria nesses sete.

Mas também é impossível negar que existem, digamos, “talentos” fora da burocracia vaticana. De certa forma, se os cardeais eleitores estiverem buscando alguém sem vícios, sem compromissos políticos com quem quer que seja, será nesses outros que depositarão o seu voto. Aqui, quatro nomes se destacam com força: o austríaco Christoph Schönborn, arcebispo de Viena; os americanos Sean Patrick O’Malley, arcebispo de Boston, e Timothy Dolan, arcebispo de Nova York; e o brasileiro Don Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo. Dos quatro, o cardeal Schönborn é disparado o candidato mais óbvio. É um teólogo erudito, conservador com as doutrinas da Igreja, mas mantém diálogo aberto e frutífero com correntes progressistas do clero austríaco. É um candidato que, segundo as expectativas de Bento XVI, pode trazer equilíbrio entre as diversas correntes teológicas da Cúria. O cardeal O’Malley tem a seu favor uma política de tolerância zero com os casos de pedofilia na diocese de Boston. Sua eleição pode significar que, pelo menos esse assunto, a Igreja Católica combaterá sem medir esforços. O cardeal Dolan é considerado uma “estrela em ascenção”, segundo a CNN. É um clérigo midiático: se comunica bem com a imprensa, com os fiéis e usa as tecnologias do momento a seu favor – é um dos poucos cardeais que possui um blog e contas no twitter e facebook. Um papa carismático, aos moldes de João Paulo II, renovaria a imagem sisuda do pontificado. No entanto, a atuação do cardeal Dolan para punir padres pedófilos da diocese de Milwalkee foi muito criticada. Resta saber se isso afeta sua imagem como papável. Por fim, Don Odilo Scherer é um clérigo ultra-conservador, que batalha contra a união civil homoafetiva, a ordenação feminina, e métodos contraceptivos. Sua eleiçào seria um desastre para a longo prazo para a Igreja Católica - pois paralisaria qualquer diálogo interreligioso ou com minorias - e para o Brasil - pois dificilmente sua política conservadora não ressoaria nas esferas políticas nacionais.

Mesmo analizando todo esse quebra-cabeça político-ideológico, é impossível saber o que realmente pensam os cardeais eleitores, e quem será o provavel eleito dentro desse panorama intrincado. No entanto, dentro das diversas possibilidades, farei uma lista provável dos papáveis mais cotados, dentro de alguns cenários possíveis.

-Cenário mais provável, caso a Igreja Católica opte por uma continuidade da linha moderada de João Paulo II e Bento XVI, mantendo o diálogo interreligioso no atual estágio, mas sem avançar significativamente nas questões sociais, no combate a pedofilia, na união civil homoafetiva, na pesquisa de células-tronco e outros temas:
1) Angelo Scola, Arcebispo de Milão.
2) Mauro Piacenza, prefeito para a Congregação do Clero
3) Don João Braz de Aviz, prefeito para a Congregação das Instituições Monásticas
4) Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho Pontifício para a Cultura
5) Timothy Dolan, Arcebispo de Nova York

-Outro cenário possível. Caso a Igreja Católica opte por um papa inserido na Cúria, capaz de manter a linha moderada, mantendo o diálogo interreligioso no atual estágio, mas sem avançar significativamente nas questões sociais, no combate a pedofilia, na união civil homoafetiva, na pesquisa de células-tronco e outros temas:
1) Mauro Piacenza, prefeito para a Congregação do Clero
2) Don João Braz de Aviz, prefeito para a Congregação das Instituições Monásticas
3) Marc Ouellet, prefeito para a Congregação dos Bispos
4) Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho Pontifício para a Cultura
5) Peter Turkson, presidente do Conselho Pontifício para Justiça e Paz

-Caso a Igreja Católica opte por um papa com perfil escolástico, catequizador e com leve tendência reformadora, mantendo o diálogo interreligioso no atual estágio, mas sem avançar significativamente nas questões sociais, no combate a pedofilia, na união civil homoafetiva, na pesquisa de células-tronco e outros temas:
1) Christoph Schönborn, Arcebispo de Viena
2) Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho Pontifício para a Cultura
3) Mauro Piacenza, prefeito para a Congregação do Clero
4) Marc Ouellet, prefeito para a Congregação dos Bispos
5) Peter Turkson, presidente do Conselho Pontifício para Justiça e Paz

-Cenário pouco provável. Caso a Igreja Católica opte por uma guinada conservadora, que fortaleça suas tradições, doutrinas e dogmas, mesmo comprometendo o efêmero diálogo interreligioso:
1) Don Odilo Scherer, Arcebispo de São Paulo

-Cenário improvável. Caso a Igreja Católica opte por dar voz e representatividade às minorias, aprofundando o diálogo interreligioso, as questões sociais, e com esperanças de iniciar diálogo com as minorias.
1) Peter Turkson, presidente do Conselho Pontifício para Justiça e Paz