A crítica dizia que ela possuía um “trompete de prata na garganta”. Um fã nova-yorkino a chamava carinhosamente de “meu rouxinol sueco”. Eu, pessoalmente, não possuo adjetivos que classifiquem Birgit Nilsson (1918-2006), a não ser o de “Melhor Soprano Wagneriano do Pós-Guerra”. Mas isso é consenso.
Para mim, Birgit Nilsson é simplesmente grande. Grande voz, literalmente e subjetivamente. Quando iniciou seus estudos no Conservatório de Estocolmo, um dos professores comentou que a voz dela era quase incontrolável de tão grande. E ela é realmente um colosso. Tem profundidade, brilho, um som metálico límpido, se é que é possível. Mas que também sabia ser gentil, afável, introspectiva. Apropriada para as heroínas de Wagner, principalmente Isolda e Brünnhilde, que eram as mais comumente interpretadas por ela. Ouvi agora pouco o dueto final do Siegfried. Ela fazendo Brünnhilde e Wolfagang Windgassen fazendo Siegfried. Não pude conter as lágrimas, obviamente. A voz, a música, me absorve tão profundamente que eu não tenho forças para ouvir de novo. Dou um largo suspiro e desligo o aparelho de som. Apesar do silêncio, ainda ouço a vibração da voz, a energia da orquestra.
Esses momentos são raros na vida de um melômano. Aquele momento em que você não fala, não pisca e não pensa. Só sente. Não existe quarto, não existe janela, não existe calor. Só existe música, e você faz parte dela. Você não entende uma palavra de alemão, mas, pela música, entende o que significa. Birgit Nilsson foi responsável por muitos desses momentos. Eu, “homem de lábios impuros no meio de um povo de impuros lábios”, sinto-me felizardo por poder usufruir dessa voz excepcional, mesmo que por gravações. Mas não me lamento, pois seria muito pior se não houvesse gravação nenhuma.
Obrigado, Sra. Nilsson. Descançe em paz.
Obs: Acima, Birgit Nilsson como Isolda. Clique na foto e leia na íntegra o obituário publicado no New York Times. Lá, você ainda poderá ouvir trechos de óperas cantadas por ela, bem como assistir a um slide show sobre sua carreira.
3 comentários:
My dear James,
Não sou lá muito fã de ópera (ou Opera, se preferir), mas gostei de suas palavras.
Nunca ouvi Birgit Nilsson, e gosto de Wagner, naturalmente, nos momentos mais fantásticos e empolgantes, como prestes a sair pra guerrear contra seres míticos; entretanto, sua sinceridade nas letras cativou minha curiosidade.
Meu caro, bom ver gente boa assim escrever. Sempre um alento.
Deus te abençoe e, por favor, mantenhamos um contato mais vivo neste ano.
Um forte abraço!
vou dar uma olhada.
abraços!
PS: Não fui no seu aniversário porque era no mesmo dia do aniversário do meu Pai... e, por mais que eu goste de você, o velho é o cara! rs
fui no link e não consegui ouvir nada... teria como vc gravar um cd pra mim que depois eu te reembolso?
abraços!
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