quinta-feira, janeiro 05, 2006

O Ballets Russes: a gênese da dança contemporânea.

Foi com alegria que assisti ao "Arte com Sérgio Britto" na última terça-feira. Era a reprise de um especial sobre a história da dança, e falava especificamente do Ballets Russes. Eu não morro de amores por balé, mas a história do Ballets Russes me encanta. Querem ouvir?
Tudo começou em 1906, quando o russo Serguei Diaghilev chegou a Paris com um objetivo: divulgar a cultura russa na França. Para isso, Diaghilev levava consigo idéias pouco convencionais sobre balé. Admirava muito o estilo de dança livre da americana Isadora Duncan, caracteristicamente de muita força física. Ainda hoje uma potência na dança, Diaghilev importou de sua terra natal toda o seu material humano: Mikhail Fokine era responsável pela mise en scène; Igor Stravinsky compôs seus balés de maior sucesso para a companhia; e os bailarinos solistas eram a excepcional Ana Pavlova e o mítico Vassily Nijinsky. Mais adiante, Nijinsky também faria coreografias para a companhia, que contou também com a colaboração do músico Erik Satie. O Ballets Russes também dançou com cenário de Pablo Picasso e figurinos de Coco Chanel. Com a morte de Diaghilev em 1929, a companhia de dissolveu. A primeira baixa aconteceu dez anos antes, quando Nijinsky abandonou se desligou do Ballets Russes devido a crises de loucura.
Analisando o legado do Ballets Russes, o principal deles é um tanto óbvio. A companhia foi o espaço que abriu as portas para o Modernismo. Um dos primeiros espaços onde as várias vanguardas artísticas se reuniam para fazer arte. Estou ouvindo nesse instante o balé La Sacre du Primetemps (A Sagração da Primavera), de Stravinsky. Foi o balé mais polêmico que a companhia apresentou. É uma orquestração intensa, viril. Uma autêntica orgia pagã. Não imagino nada mais apropriado para a partitura, que a coreografia quase sexual de Nijinsky. A busca por novas expressões corporais foi, com certeza, outro legado do Ballets Russes que persegue muita gente, de Georges Balanchine à nossa Débora Colker. Daí me lembro do filmete de Ana Pavlova dançando a morte do cisne, do famoso balé de Tchaikovsky. Nada que lembre a languidez do balé tradicional. O cisne se contorce de dor, bate as asas com violência, e corre em desespero de um lado para o outro. Pavlova desperta no espectador toda a sorte de sentimentos. Compaixão, principalmente.
É até estranho dizer que eu não gosto de balé. Parece justamente o contrário! Assistir Margot Fontein e Rudolf Nureyev dançando foi uma experiência mais que gratificante. Entendi naquele dia o que é dança. Mas eu sou fã da voz humana. Uma ária de ópera me agrada mais que um balé inteiro.

Um comentário:

Anônimo disse...

realmente, essa postagem é de extremo bom gosto... em tudo.
continue assim!
hugs