Quando Luciano Pavarotti iniciou sua carreira, em 1961, a ópera italiana passava por uma entre-safra. Deu um lado, os grandes nomes do pós-2ª Guerra já começavam a sentir o peso do tempo e se preparavam para encerrar a carreira. Do outro, cantores como Mario del Monaco, Franco Corelli e Joan Sutherland se consolidavam como os grandes nomes da cena lírica, na segunda metade do século XX. Mas o mundo estava mudando. Um mundo curtido de duas guerras, vivendo a iminência de uma terceira.
Todos lembram de Pavarotti como o tenor que ajudou a popularizar a ópera. Existe certa verdade nisso, mas não totalmente. Vamos lembrar que o mundo na década de 1960, curtido de duas guerras e vivendo a iminência de uma terceira, sofria transformações radicais: direitos civis, liberdade sexual, revolução tecnológica e científica. Era um mundo, como ainda é hoje, metódico, frio, planificado. Só que naquela época, diferentemente de hoje, as pessoas pensavam coletivamente, já os grandes anseios da época requeriam ações coletivas. No fim , não sobrava tempo para uma experiência pessoal e subjetiva, como é ouvir música clássica.
Pavarotti tinha um grande talento para o canto. Era uma voz natural, bruta, que só se encontra nos bons cantores italianos. Parece uma marca registrada da península. Quem conhece o Pavarotti dos Três Tenores, ou da série Pavarotti and Friends, conhece mais um vulto do que propriamente um cantor. Um ícone que vivia muito mais do prestígio que construíra, do que de sua arte principal.
Mas não é surpresa que Pavarotti só tenha alcançado o grande público no fim de sua carreira. O que começou nos anos 60, naquele mundo curtido de duas guerras, sem tempo para uma experiência subjetiva, foi o aperfeiçoamento de uma nova linguagem que levasse o público de volta a uma experiência pessoal com a música clássica. A década de 60 foi onde se consolidou a mídia de massa para o público de música clássica. Gravações em disco, transmissões radiofônicas de alta qualidade, turnês mundiais. Antes que se cunhasse o termo “globalização”, a música clássica já vivia um trânsito constante de artistas apresentando-se ao redor do mundo.
Muitos podem creditar (o início d)a popularização da música clássica a Pavarotti. Por desconhecimento, talvez. Junto dele estão nomes como Plácido Domingo, José Carreras, Montserrat Caballé, Mirella Freni, e muitos, muitos outros que não podem ser esquecidos. Essa geração foi tão fecunda que livrou a música clássica de um hiato muito maior do que o que ela passa hoje.
O que faz a morte de Pavarotti ser tão lamentada? Morreu um grande artista, que também era um ícone pop, financiador de causas nobres. Mas sua morte é início do fim de uma geração gloriosa, que semeou muito pouco. Bons cantores surgiram nas décadas de 80 e 90, mas a maioria deles teve ascensão e queda meteórica. A carreira de Pavarotti durou até 2001, aos trancos. Foi quando diagnosticaram o câncer que o vitimou. Bem como a voz, já bem deteriorada, a doença foi decisiva para encerrar uma carreira vitoriosa, mas que só vinha recebendo críticas. Mas nada que abalasse seu prestigio e respeitabilidade.
A morte de Pavarotti traz consigo uma sensação de abandono. O que será da ópera hoje, quando poucos são os (bons) cantores e grande é a necessidade deles? Muitos dizem que a ópera, e a música clássica em geral, morreram há muito tempo. Eu ainda confio na marcha do tempo, embora a esperança seja pouca. Mas espero que numa próxima leva, o tempo nos traga artistas da qual nos orgulhamos.
Mille grazie per tutti, Pava. Restate in pace.
Todos lembram de Pavarotti como o tenor que ajudou a popularizar a ópera. Existe certa verdade nisso, mas não totalmente. Vamos lembrar que o mundo na década de 1960, curtido de duas guerras e vivendo a iminência de uma terceira, sofria transformações radicais: direitos civis, liberdade sexual, revolução tecnológica e científica. Era um mundo, como ainda é hoje, metódico, frio, planificado. Só que naquela época, diferentemente de hoje, as pessoas pensavam coletivamente, já os grandes anseios da época requeriam ações coletivas. No fim , não sobrava tempo para uma experiência pessoal e subjetiva, como é ouvir música clássica.
Pavarotti tinha um grande talento para o canto. Era uma voz natural, bruta, que só se encontra nos bons cantores italianos. Parece uma marca registrada da península. Quem conhece o Pavarotti dos Três Tenores, ou da série Pavarotti and Friends, conhece mais um vulto do que propriamente um cantor. Um ícone que vivia muito mais do prestígio que construíra, do que de sua arte principal.
Mas não é surpresa que Pavarotti só tenha alcançado o grande público no fim de sua carreira. O que começou nos anos 60, naquele mundo curtido de duas guerras, sem tempo para uma experiência subjetiva, foi o aperfeiçoamento de uma nova linguagem que levasse o público de volta a uma experiência pessoal com a música clássica. A década de 60 foi onde se consolidou a mídia de massa para o público de música clássica. Gravações em disco, transmissões radiofônicas de alta qualidade, turnês mundiais. Antes que se cunhasse o termo “globalização”, a música clássica já vivia um trânsito constante de artistas apresentando-se ao redor do mundo.
Muitos podem creditar (o início d)a popularização da música clássica a Pavarotti. Por desconhecimento, talvez. Junto dele estão nomes como Plácido Domingo, José Carreras, Montserrat Caballé, Mirella Freni, e muitos, muitos outros que não podem ser esquecidos. Essa geração foi tão fecunda que livrou a música clássica de um hiato muito maior do que o que ela passa hoje.
O que faz a morte de Pavarotti ser tão lamentada? Morreu um grande artista, que também era um ícone pop, financiador de causas nobres. Mas sua morte é início do fim de uma geração gloriosa, que semeou muito pouco. Bons cantores surgiram nas décadas de 80 e 90, mas a maioria deles teve ascensão e queda meteórica. A carreira de Pavarotti durou até 2001, aos trancos. Foi quando diagnosticaram o câncer que o vitimou. Bem como a voz, já bem deteriorada, a doença foi decisiva para encerrar uma carreira vitoriosa, mas que só vinha recebendo críticas. Mas nada que abalasse seu prestigio e respeitabilidade.
A morte de Pavarotti traz consigo uma sensação de abandono. O que será da ópera hoje, quando poucos são os (bons) cantores e grande é a necessidade deles? Muitos dizem que a ópera, e a música clássica em geral, morreram há muito tempo. Eu ainda confio na marcha do tempo, embora a esperança seja pouca. Mas espero que numa próxima leva, o tempo nos traga artistas da qual nos orgulhamos.
Mille grazie per tutti, Pava. Restate in pace.
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