segunda-feira, abril 10, 2006

Minha Páscoa Musical - Parte I


Um dos hábitos que eu adquiri com o tempo, foi o de passar os feriados santos ouvindo música religiosa. Para mim, que sou movido por música, é uma forma bem especial de celebrar os ritos cristãos, e essa Páscoa não será diferente. Como vai funcionar? Recolhi as obras religiosas de diversos compositores, que tenham como tema comum a Páscoa, a idéia de morte e ressurreição, ou algo que provoque em mim alguma dessas sensações. Escolhidas as obras, distribuo-as pelos dias de feriado, de quinta a domingo.

Essa é uma das obras que eu pretendo ouvir:

W.A. MOZART
Requiem
Edith Mathis, Julia Hamari, Wieslaw Ochman, Karl Ridderbusch
Coro da Ópera Estadual de Viena
Orquestra Filarmônica de Viena
Karl Böhm, reg.

Esqueçam qualquer história que vocês já ouviram sobre o Requiem de Mozart, principalmente a do filme Amadeus, de Milos Forman. O que você ouviu (e viu) faz parte de um repertório de factóides, já plenamente desmistificados pelos estudiosos.

A encomenda da obra partiu do Conde Walsegg-Stuppach, em 1791, que queria homenagear a esposa com uma grande missa fúnebre. Mozart estava no auge de sua efervecência criativa. Por exemplo, em um curto espaço de semanas Mozart estreou suas duas últimas óperas: La Clemenza di Tito (A Clemência de Tito) em Praga, dia 01 de setembro, e Die Zauberflöte (A Flauta Mágica) em Viena, dia 30 de setembro. E entre aulas de piano, rodas de bilhar e festas, Mozart se esforçava para compor o Requiem. Como sabemos, ele o deixou inacabado e coube a um de seus discípulos o término da obra.

E estruturalmente, o que é um Requiem? Requiem vem do latim e significa “descanso”. Uma Missa de Requiem tem como base textual a homilia católica para um ofício fúnebre, que pode ser feito exatamente após o enterro ou decorrido algum tempo, em memória do falecido. São cânticos em latim, cuja ênfase seria desejar uma boa passagem para o morto e misericóridia para os vivos. Para manter o caráter fúnebre da peça, as passagens Gloria e Credo (comuns nas missas regulares e que possuem um espírito celebrativo) são suprimidas, e é inserido o texto Dies Irae (Dia de ira).

Vários outros compositores compuseram um Requiem. Giuseppe Verdi compôs um lindíssimo (o meu favorito, sem dúvida. Mas estamos no Ano Mozart...), cheio de dramaticidade. Gabriel Fauré também é muito celebrado por seu Requiem, assim como Hector Berlioz e Antonin Dvořak. Johannes Brahms e Lord Benjamin Britten compuseram Requiens bem interessantes. O de Brahms é chamado Ein Deutsches Requiem (Um Requiem Alemão), e não usa textos católicos; usa trechos da Bíblia de Lutero, em alemão. O de Britten é chamado War Requiem (Requiem de Guerra), que interpola os textos da homilia católica com poemas anti-belicistas de Wilfred Owen, oficial inglês morto na Primeira Guerra Mundial.

Mozart não era um compositor costumeiro de música religiosa. Além do Requiem, compôs também missas, mas não se aprofundou no gênero. Isso em absoluto tira o magnetismo de suas passagens. São eloqüentes e brilhantes, que encontram paralelo com um gênero musical muito caro a Mozart: a ópera. Dos compositores citados acima, pelo menos quatro aventuraram-se no teatro lírico. Penso que esses compositores tem maior facilidade na composição de peças sacras, pois lidam com “sentimentos à flor da pele”. Não são todos que conseguem, em música, transpor os limites do tangível. Digo tangível porque a fé, o amor e a compaixão, quando plenamente entendidos, ultrapassam a existência da razão do mundo. É esse detalhe que diferencia o compositor do mestre: entender o ser humano na sua interessa, quando ele experimenta a grandeza do seu entendimento.

Para encerrar, algumas curiosidades atuais sobre o Requiem de Mozart: 1) foi escolhido pelo governo norte-americano como o Requiem oficial pelas vítimas do 11 de setembro; 2) foi escolhido na comunidade Requiem, no Orkut, o requiem em homenagem ao papa João Paulo II; 3) José Carreras gravou um Requiem de Mozart nos escombros de um igreja ortodoxa na Bósnia, em homenagem aos mortos na guerra civil; 4) A minisérie Os Maias, da Rede Globo, teve o Requiem de Mozart na sua trilha sonora.

2 comentários:

Anônimo disse...

Interessante...
Não sabia o que significava Requiem.
Bem bacana, o texto.
Bem, se der pra você escapar às "degustações auditivas" do feriado, passe lá pelo acampamento!
Beijos mil.

Jackie Götzen disse...

Bem...como eu SEMPRE digo: Vc é um Oráculo de sabedoria! Rs!
E, se preferir não ir ao aceitar o convite do nosso amigo André "fita" VHS ( RS! Foi mal André, é que só assim pra lembrar o seu sobrenome!)Eu te convido pra vir domingo ouvir música renascentista e medieval! Vem, vem, Ó Grande oráculo!