segunda-feira, julho 21, 2008

Resenha: Wagner: The Great Operas of the Bayreuth Festival

O site especializado Allmusic anunciou no mês passado um pacote de proporções épicas. O lançamento da caixa Wagner: The Great Operas of the Bayreuth Festival, pelo selo Decca Classics. Além de títulos correntes do seu catálogo, a Decca surpreende pela inclusão de títulos de outras gravadoras, e de alguns fora de catálogo há décadas.

A caixa em si deve ser celebrada como um grande acontecimento. Compilações das óperas de Wagner em um único set de discos eram comuns na época do vinil, sendo a série integral do Anel dos Nibelungos o carro chefe. A própria Decca e a Phillips Classical dispõem dessas integrais, a primeira com Georg Solti e a segunda com Karl Böhm. A prática ainda se mantém com o advento do CD, mas as gravadoras preferem manter em circulação as gravações que tem mais procura. É muito mais comum encontrar nas lojas a gravação da Valquíria com Karl Böhm, por exemplo, do que a caixa com o Anel completo. Também devido ao custo de produção, essas integrais são muito raras.


O diferencial dessa caixa, no entanto, é expandir o set não só incluindo o ciclo do Anel dos Nibelungos, mas também as demais óperas do repertório do Festival de Bayreuth. Com isso, a seleção inclui as quatro óperas do Anel (O Ouro do Reno, A Valquíria, Siegfried e O Crepúsculos dos Deuses), e as demais, a saber: O Navio Fantasma, Tannhäuser, Lohengrin, Tristão e Isolda, Os Mestres Cantores de Nuremberg e Parsifal. São ao todo mais de 600 horas de música, divididas em 33 CDs.


Outro diferencial é que a caixa reedita duas gravações fora de catálogo já há algum tempo, que são O Navio Fantasma e Lohengrin, regidas por Wolfgang Sawallisch. As duas gravações eram editadas pela Phillips Classical, que as deixou de fora quando lançou a coletânea Richard Wagner Edition, nos anos 90. As duas gravações voltam ao mercado em grande estilo. Surpreendente, dizendo o mínimo, é o lançamento de Tristão e Isolda, regido por Karl Böhm, sob a marca Decca. Essa gravação é tradicionalmente publicada pelo selo Deutsche Grammophon, que a fez mundialmente reconhecida. Algum interesse ainda indefinido deve mover a Universal Music Group, que é o grupo que controla as três gravadoras citadas aqui.


No site da Amazon, o lançamento dessa caixa vem sendo considerado a jogada de marketing mais audaciosa da Decca. Inegavelmente, a Decca ganha valiosos pontos com melômanos ao redor do mundo. Abaixo, a ficha técnica das gravações disponíveis nessa caixa.


O NAVIO FANTASMA (Der fliegende Holländer)
Anja Silja, Fritz Uhl, Franz Crass, Josef Greindl. Coro e Orquestra do Festival de Bayreuth. Wolfgang Sawallisch, regente.


TANNHÄUSER
Anja Silja, Grace Bumbry, Wolfgang Windgassen, Eberhard Wächter, Josef Greindl. Coro e Orquestra do Festival de Bayreuth. Wolfgang Sawallisch, regent.


LOHENGRIN
Anja Silja, Astrid Varnay, Jess Thomas, Ramón Vinay. Coro e Orquestra do Festival de Bayreth. Wolfgang Sawallisch, regente.


TRISTÃO E ISOLDA (Tristan und Isolde)
Birgit Nilsson, Christa Ludwig, Wolfgang Windgassen, Eberhard Wächter, Maati Talvela. Coro e Orquestra do Festival de Bayreuth. Karl Böhm, regent.


OS MESTRES CANTORES DE NUREMBERG (Die Meistersinger Von Nürnberg)
Hannelore Bode, Jean Cox, Bernd Weikl, Karl Ridderbusch, Hans Sotin. Coro e Orquestra do Festival de Bayreuth. Silvio Varviso, regent.


O OURO DO RENO (Das Rheingold)
Annelies Burmeister, Anja Silja, Wolfgang Windgassen, Theo Adam, Gustav Neidlinger, Maati Talvela. Orquestra do Festival de Bayreuth. Karl Böhm, regente.


A VALQUÍRIA (Die Walküre)
Birgit Nilsson, Leonie Risanek, Annelies Burmeister, James King, Theo Adam, Karl Ridderbusch. Orquestra do Festival de Bayreuth. Karl Böhm, regente.


SIEGFRIED
Wolfgang Windgassen, Erwin Wohlfahrt, Theo Adam, Birgit Nilsson. Orquestra do Festival de Bayreth. Karl Böhm, regente.


O CREPÚSCULO DOS DEUSES (Die Götterdämerung)
Birgit Nilsson, Martha Mödl, Wolfgang Windgassen, Josef Greindl, Thomas Stewart. Coro e Orquestra do Festival de Bayreuth. Karl Böhm, regente.


PARSIFAL
Peter Hoffmann, Waltraud Meier, Hans Sotin, Simon Estes, Matti Salminen. Coro e Orquestra do Festival de Bayreuth. James Levine, regente.

sexta-feira, maio 23, 2008

Um Theatro pra chamar de meu

Imagine-se sozinho contemplando os corredores do Museu Imperial, em Petrópolis. Não se ouve o burburinho dos visitantes, nem o arrastar das pantufas no assoalho de madeira, muito menos há o controle quase intransigente da segurança. São só você e quase 200 anos de história em cada sala. Irresistível não correr as mãos pela mobília, passar demoradamente por cada cômodo e esmiuçar os detalhes de cada peça, tendo a sensação de que até o granito do chão é tão vivo quanto você.

Foi essa sensação de pertencimento que se apoderou de mim ontem (14 de maio), no Theatro Municipal do Rio, durante o ensaio da ópera Fidelio, de Beethoven. Acostumado a ver aqueles corredores sempre cheios durante os intervalos dos espetáculos, meu primeiro sentimento foi de certa desolação ao vê-los tão imponentes e silenciosos. Em contraste, a ação da noite estava toda concentrada nos bastidores, onde o coro e os solistas se preparavam para entrar no palco, enquanto a orquestra ocupava seu tradicional fosso. E de um lado para o outro via-se o pessoal da técnica ajeitando os últimos detalhes da produção.

A priori, alguém pode sentir-se oprimido diante dessa situação. Senti-me um pouco assim no início, mesmo conhecendo algumas pessoas do coro do Theatro, justamente as que me convidaram a assistir o ensaio. Não fiquei de todo deslocado, não só pela companhia dos amigos que me deixou à vontade; mas foi, acima de tudo, pelo desprendimento da formalidade. Olhei para os lados e não vi as distintas senhoras com as quais eu tenho o cuidado de não esbarrar. Tateei os bolsos e não encontrei o ingresso contendo o exato lugar onde eu deveria me sentar. De repente, a imensidão do Theatro foi cabendo no meu campo de visão, e a sensação de opressão deu lugar a uma sensação de aconchego.

Percebi então que eu tinha todo aquele espaço para o meu bel prazer, e que eu poderia desfrutá-lo de forma mais íntima, longe da pompa dos concertos e das óperas. Eu não estava mais no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Parecia mais a sala da minha casa.

Eu gostaria que o carioca tivesse essa simpatia pelo Theatro. Ele não é o grande, imponente e todo-poderoso Theatro Municipal. Nunca foi. Na verdade, ele é a casa de todo aquele que ama, vive e experimenta música.

Detalhes sobre a nova produção de Fidelio, no TMRJ, em beve.