sexta-feira, janeiro 12, 2007

Em alta para 2007: Daniel Barenboim

Meu primeiro post do ano é profético, pois se 2006 foi o Ano Mozart, ouso dizer que 2007 será o Ano Daniel Barenboim. Nenhuma personalidade da música erudita contabilizou muitas manchetes, ou sofreu tanta especulação quanto ele em 2006, que começará este ano com uma responsabilidade: a de ser o regente mais influente da atualidade.

Creio que este seja o ano-chave para a carreira de Barenboim como regente. Apesar de sua aposentadoria do cargo de diretor artístico da Orquestra Sinfônica de Chicago, um outro cargo de muito mais peso o espera. Com a demissão forçada de Riccardo Muti, Barenboim foi convidado para ser o principal regente convidado do Teatro La Scala de Milão. E o que tudo indica é que a palavra “convidado” pode se tornar “titular”, e Barenboim assumiria a direção artística da mais tradicional casa de ópera do mundo. Para que se entenda a dimensão do cargo que Barenboim está para assumir, pense o seguinte: o La Scala está para a ópera, e para a música, assim como o Vaticano está para o Catolicismo.

Outro evento que colocou Barenboim em evidência para 2007 foi Lorin Maazel, diretor artístico e regente da Orquestra Filarmônica de NY, tê-lo apontado como seu preferido para sucedê-lo à frente dessa orquestra. Foi uma surpresa para todos, desde os músicos até a impressa especializada. Mas dizendo “lisonjeado”, Barenboim recusou o convite.

Pessoalmente, Barenboim nunca me chamou a atenção. Primeiro, porque ele é frequentemente comparado ao grande Wilhelm Furtwängler, o que é totalmente descabido e absurdo. Segundo, porque seu estilo é uma reminiscência da escola germânica do início do século XX, que presa por frases melódicas alongadas e tempos um pouco lentos, e que não me agrada. E mesmo essa reminiscência vira uma caricatura se comparada com o estilo de outros gigantes como Hans Knappertsbusch, Otto Klemperer ou até mesmo Erich Leinsdorf. E terceiro, porque Barenboim possuí concorrentes de peso no pódio, muito mais competentes e carismáticos.

Mas é justamente no vácuo do meu terceiro argumento de onde sai a atual proeminência de Barenboim. Pois seus grandes concorrentes no pódio estão deixando a atividade, ou por aposentadoria, ou por falecimento mesmo. Da safra de regentes que despontaram no pós-guerra, só Barenboim, Zubin Mehta e Seiji Ozawa estão em plena atividade. E desses três, que eu tenha conhecimento, Barenboim é o único que rege com frerqüencia na Europa e na América, desde concertos a óperas completas.

Se Barenboim levou tempo para despontar não foi por falta de currículo. Nascido na Argentina (estudei com um parente dele no 2° grau, inclusive), de família judia e radicado desde menino na Rússia, suas aulas de regência foram com Igor Markevitch, um grande regente russo. Nesse período conheceu Zubin Mehta, que também assistia às aulas de Markevitch. Seu primeiro grande trabalho foi a gravação integral dos concertos para piano e orquestra de Beethoven com Otto Klemperer, excelente regente alemão que era quase um tirano de tão exigente. Casado com o prodígio Jacqueline Du Pré (violoncelo), formou uma profunda parceria com músicos judeus proeminentes: Itzhak Perlman (violino), Pinchas Zukerman (violoncelo) e o amigo Zubin Mehta. A parceria e a amizade eram tão grandes que a trupe passou a ser conhecida como “Kosher Nostra”.

Desde 2003 o nome de Daniel Barenboim passou a soar mais forte no ‘métier’. E com polêmica. Convidado para reger a Filarmônica de Israel, Barenboim decidiu tocar a abertura da ópera “Os Mestres Cantores de Nuremberg”, de Richard Wagner. Execuções das obras de Wagner são um tabu em Israel por causa da propaganda nazista, e Barenboim teve que mudar o repertório do concerto. Mas no segundo dia de apresentações, sob protesto de alguns, a abertura foi tocada como bis ao final do concerto.

Nesse mesmo ano, a nossa Companhia das Letras lançou no Brasil seu livro “Paralelos e Paradoxos”, escrito em parceria com o crítico palestino Edward W. Said. Em pauta, música, cultura e o conflito árabe-israelense. Os paralelos que cruzam e os paradoxos que separam israelenses e palestinos. Nesse mesmo período, Barenboim formou a West-Eastern Divan Orchestra, um projeto que une jovens músicos dos dois lados. A orquestra já gravou um CD e dois DVDs, e sobrevive apesar de tudo. Recentemente, durante a guerra entre Israel e Líbano, cinco musicistas palestinos abandonaram a orquestra em protesto.


Vamos adimitir. Se comparadado com seus companheiros, Barenboim têm trabalhado demais, e por muito tempo. Ele merece a projeção que vem tendo. Que faça um bom trabalho, portanto!